Na Estrada de Ogum

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Kryptonita




“Sobe, janelinha!”
Um minuto, dois minutos... Nada.
Uma eternidade. Cada segundo equivalia a uma hora, cada pessoa que aparecia no msn era uma nova decepção.
Vez ou outra ele clicava nas fotos das redes sociais. A imagem paralisada dela o fazia esquecer do tempo. “Que sorriso!”. Era como se tivesse tirado a foto olhando para ele, a imagem tinha vida e atraía a veneração do rapaz. Cada nova fotografia lhe causava uma sensação incomum, semelhante ao que sentem os católicos fervorosos quando observam o rosto dos santos nas esculturas sacras. Incrível era pensar que ela não estava olhando nos seus olhos, e sim, na lente da câmera.
Sem se dar conta, passou mais de duas horas sonhando acordado. Tempo hábil para planejar o que dizer? Talvez. Segurança total na fala? Nunca. Havia sempre o risco de falar alguma besteira, por mais que se preparasse. Era como uma partida de xadrez, um movimento em falso poria tudo a perder.
A testa toca a mesa do pc, ele respira calmamente, ela o visita em seus pensamentos. Há beijos, abraços, carícias, conversas casuais sob a luz do luar, tudo muito fácil. Fácil e mágico.
Pouco mais de dois minutos com a cabeça baixa e um barulho o desperta de seu transe. Ergue os olhos quase sem esperança, que se abrem de forma incomum quando alcançam a cobiçada imagem daquele rosto.
O cenário de todos os seus flertes virtuais se repete: um clique, um “oi”, um emoticon ridículo, um coração acelerado e quinze ou vinte segundos de espera angustiante. Ela responde, pergunta se está tudo bem. Agora vai:
-         Tá tudo bem sim. Ocupada?
-         Não.
-         Queria falar com você...
-         Comigo? Pode falar.
-         Sabe o que é, faz um tempo que tô querendo falar contigo...
-         Hum... que honra!
Ela não estava sendo sarcástica. O melhor aluno da turma, o homem genial, homenageado na câmara municipal, capa de revista de economia, jovem empreendedor... eram tantos os méritos que ele atraía fãs por onde passava. Era o tipo de homem que fazia os pit-boys desejarem trocar os músculos por um cérebro. Nos quadrinhos que leu durante a infância, até o Superman um ponto fraco: podia ser parado pela kryptonita. Ele não, não havia meios de deter sua ascensão em todos os aspectos da vida. Todos queriam ser como ele, todos queriam sê-lo por um dia, não existia um só indício de fraqueza visível em sua personalidade. Existiria um calcanhar de Aquiles? Pouco provável, tinha tudo precocemente: conquistas materiais, sofisticação cultural, experiências em outros países, maturidade incomum. Era invencível.
Três minutos de espera e ela volta a digitar:
-         Cadê você? Não queria falar comigo?
-         Sabe o que é? Queria saber uma coisa...
-         Saber o quê?
“Bom, é agora ou nunca!”
-         Seu irmão tá bem? Fiquei sabendo que ele torceu o tornozelo no jogo de ontem...
-         Meu irmão? Ele nem jogou! Tá louco?
-         Ah tá. Então me enganei, deve ser outro cara.
É nunca. Maldita timidez...